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ESTACA ZERO


sexta-feira, maio 06, 2005

manuéis, analfabetos, primatas………..



Depois de exportarmos gerações de emigrantes de senhores manuéis, de bigode, degustadores de bacalhau amantes do vinho e apreciadores do vira, eis que agora um talentoso historiador concede uma entrevista onde define exactamente que tipo de povo somos.

Hermano Saraiva é mediático. Ou melhor, habituamo-nos, após anos de insistência da televisão pública, a vê-lo no pequeno ecrã apresentar autenticas lições da história de Portugal, ao melhor estilo da tríade “Deus, Pátria, Família”.

A comunicação que o homem estabelece com os telespectadores é de tal forma empolgada que transmite a ideia aos primatas de que, tudo o que afirma é uma verdade inquestionável.

No essencial o tipo de linguagem é a mesma que certa estirpe em Portugal, utiliza para minimizar as capacidades intelectuais dos outros.

«A democracia quer dizer que o maior número tem razão. Neste país de analfabetos, o maior número é de primatas e são eles que mandam»
(extrato de entrevista retirado do site econac)

Deveria o “iluminado” historiador, ex-ministro da Educação e admirador confesso de Oliveira Salazar afirmar que também contribuiu para os primatas e analfabetos, nomeadamente quando mandou abafar os movimentos estudantis e o direito à contestação dos estudantes.

Porque as coisas se fazem da memória, vamos lembrar alguns aspectos de como se vivia em Portugal no “saudoso” tempo. Talvez se entenda algumas das causas, para a cultura do lixo em que vivemos.

É vulgar dizer que tudo ou quase tudo começa na escola, então:

Aspectos da vida nas Escolas :
Não havia turmas mistas (a não ser no então chamado Curso Complementa); os pátios de recreio também não eram mistos; em reuniões artísticos havia censura prévia das autoridades escolares (nomeadas pelo Governo) aos textos a declamar ou representar pelos alunos; estavam proibidas as Associações de Estudantes do Ensino Secundário; as alunas e, em algumas escolas, as professoras, tinham de usar bata tipo uniforme. Não eram admitidas na escola se vestissem calças; quanto às associações de estudantes universitários, eram fortemente vigiadas e em algumas vezes encerradas; havia polícias nas universidades; nas escolas primárias cumprimentava-se o professor e os retratos obrigatórios de Salazar e do Presidente da República; a igreja que tão humildemente caminhou ao lado de Salazar, marcava presença destacada com um crucifixo colocado a meio dos dois retratos.

A Situação das Mulheres:
As mulheres primeiro dependiam juridicamente dos pais e, depois, dos maridos; as relações na família eram de ausência de direitos iguais face, por exemplo, à escolha do domicílio ou à educação dos filhos que era decidida pelo pai; mulher casada não tinha passaporte individual e só podia ausentar-se para o estrangeiro com autorização escrita do marido; as professoras do ensino primário, tinham de ter autorização do governo para casar. E as enfermeiras não podiam casar; as pessoas casadas pela Igreja (a maioria) não podiam divorciar-se e voltar a casar pelo civil. Podiam, naturalmente, separar-se e arranjar outras famílias - mas ficavam sempre em posição não reconhecida juridicamente pela lei e os filhos de nova ligação ou eram considerados ilegítimos (mal vistos pela sociedade e sem quaisquer direitos a herança e protecção dos pais)

Governos legitimados por eleições não havia! Simplesmente porque, não havia partidos políticos de oposição legais.
Não havendo partidos com vida regular autorizada, também não poderia haver eleições democráticas; não havia acesso aos cadernos eleitorais e por isso a oposição não podia controlar a sua correcção; não havia eleições autárquicas nem para as Câmaras Municipais, nem para as Juntas de Freguesia. Presidentes da Câmara e Presidentes das Juntas de Freguesia eram nomeados pelo governo. Nas aldeias, existia também uma espécie de ‘ministro’ ou prefeito, chamado «regedor», encarregado de manter a ordem, chamar a Guarda republicana em caso de desordem…. ”Pela Lei e Pela Grei

Só votavam, os chefes de família (o pai), que usufruíssem de determinado rendimento anual e com a 4ªclasse feita (durante muito tempo o ensino não foi obrigatório) por isso ainda há tantos analfabetos e primatas. Mulheres, excepto as chefes de família (solteiras ou viúvas) ou as que tivessem uma profissão remunerada, os pobres e os analfabetos ficavam em casa. Podiam também votar os funcionários e funcionárias do Estado. Os tais, que eram obrigados a uma declaração de fidelidade ao regime. Não havia Liberdade de imprensa, Salazar instituiu, por decreto a censura prévia a todas as publicações.

O regime de Salazar cedo entendeu que para consolidar a ideologia, teria a par da vinculação ideológica do Estado Novo na escola, de controlar a juventude fora dela. Fê-lo com ao criar uma Organização de inscrição obrigatória para todos os estudantes e de cunho para-militar. A Mocidade Portuguesa e a Mocidade Portuguesa Feminina.

Cultivava-se, por um lado, um patriotismo risível:

“nós, portugueses éramos o povo entre todos escolhido para povo do Senhor, os melhores do mundo, os que sempre tínhamos tido Deus do nosso lado (desde o milagre de Ourique) e sempre tínhamos feito o bem, por idealismo, levando desinteressadamente a civilização aos desgraçados dos pretos e outras raças, na África, na Ásia, no Brasil...ao contrário dos outros povos, os maus, que só se moviam por interesses económicos, pouco nobres”

e por outro lado, o sentido do dever de obediência aos chefes.

Mas, para além destes eficientíssimos instrumentos de controle do pensamento e da inteligência, havia também, para quem conseguia furar o bloqueio, instrumentos repressivos muito eficientes. Refiro-me à Legião Portuguesa, tropa de elite à boa maneira das SS de Hitler e sobretudo à polícia secreta conhecida por PIDE/DGS.
A PIDE/DGS, funcionava com base numa rede tentacular de “bufos” que, a troco de salário, espiavam todos. O clima era tal que ninguém ousava exprimir opiniões, nunca se podia ter a certeza se o amigo com quem se estava seria ou não bufo.

Lá fora, Salazar, foi senhor de um vasto império. Este Império circunscrevia - se, em 1961, aos territórios de Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé, Angola, Moçambique, Macau e Timor . Até essa data tínhamos ainda o chamado Estado Português da Índia (Goa, Damão e Diu).
Éramos já, nessa altura, o último país com posse de territórios coloniais, apesar da doutrina oficial de que se não tratava de colónias, mas de províncias ultramarinas - com o mesmo estatuto do Minho ou do Alentejo.
Nesses territórios as autoridades portuguesas exerciam discriminação sobre os negros, do tipo do 'apartheid' sul-africano, como era o caso de Moçambique; noutros, havia, de facto, legislação especial para os 'pretos', a quem não eram, quase , reconhecidos direitos. No entanto, era-lhes ensinado a História de Portugal, fazendo-os descender dos "avós lusitanos"; e, em Portugal dito Continental, aprendíamos os rios, montanhas e caminhos de ferro de Moçambique e Angola...

Mas o tempo dos Impérios tinha acabado.
Em Africa, verificaram-se, então, por todo lado, guerras de libertação conduzidas por movimentos nacionalistas. A este desejo de independência, reagiu Salazar, encetando uma guerra colonial que custaria a vida de milhares de soldados e oficiais.

O contributo do Estado Novo para a nação, foi, sermos um país de analfabetos e primatas “bem comportadinhos”. Graças, à promoção do obscurantismo atravéz da educação ideológica e da manutenção em estado de analfabetismo ou semi analfabetismo de grande parte da população (perto de 70%de população rural) Assim foi possível prolongar durante cerca de 50 anos um regime apreciado e não menos vezes evocado por alguns.

A entrevista é um lamentável desfile de afirmações saudosistas a roçar a moralidade.

Milhões de portugueses estiveram com esse homem, à excepção de uma pequena minoria…

Milhões foram os que em 25 de Abril de 1974, sorriram abertamente sem medo, olharam olhos nos olhos uns aos outros e aprenderam a falar livremente.

É verdade que nem tudo correu bem, mas o país hoje nada têm a ver com o Portugal cinzento retardado e amordaçado do Estado Novo.

Podemos orgulhar-nos de ser hoje um povo que soube vencer e rejeitou a "Lição de Salazar". Um povo que encetou uma vida democrática.

A festa foi bonita pá!
Fizemos uma Revolução civilizada, sem mortes (pertenceria à PIDE a responsabilidade dos únicos mortos da revolução de Abril), libertamos os presos políticos, realizamos eleições livres, recuperamos direitos de cidadania longamente usurpados.....

Tenha mazé maneiras.....Sr.

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